A
realização do ritual “Aricuri” na Reserva Biológica de Serra Negra, em
Pernambuco, está garantida, por um acordo celebrado entre o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a Fundação
Nacional do Índio (Funai), representantes das comunidades indígenas
Pipipã e Kambiwá, e Procuradoria da República Pólo Serra
Talhada/Salgueiro, em Pernambuco. O acerto possibilitou a realização da
cerimônia estabelecendo medidas de adequada utilização da Reserva
Biológica de Serra Negra, durante a realização do ritual indígena.
Segundo Marco Elihimas, chefe da
Coordenação Técnica Local da Funai em Ibimirim (PE), a cerimônia do
Aricuri é realizada desde o século 19 no mesmo local, mas havia risco
de não ocorrer este ano por falta de entendimento entre os indígenas e a
coordenação regional do ICMBio responsável pela Reserva que faz limite
com a Terra Indígena Kambiwá, habitada pelas duas etnias. Parte da
Reserva, onde se encontra a área do ritual sagrado, é pleiteada pelos
Pipipã como terra tradicional e está em estudo pela Funai.
Com a intervenção do Ministério
Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria de Serra Talhada, foi
possível estabelecer compromissos, responsabilidades e obrigações que
garantam o direito dos indígenas em preservar o seu bem cultural e ao
mesmo tempo a integridade do meio ambiente. De acordo com Elihimas, que
participou das negociações, ficou acertado que “durante o período do
ritual – de 10 a 20 de outubro - os indígenas não poderão caçar ou
retirar madeira, além de ter de recolher todo o lixo após as
festividades, deixando-o em local indicado pelo ICMBio”.
Toda a madeira, gravetos e cipó
utilizados no ritual terão de ser retirados fora da Reserva. Os
indígenas também se comprometeram a orientar os participantes a cerca
da obrigação de preservação ambiental e das proibições, além de
controlar o acendimento do fogo, tomando todo o cuidado para evitar a
sua propagação e surgimento de pontos de incêndio.
À Funai coube divulgar os
termos do acordo junto às lideranças e comunidades indígenas,
orientando sua aplicação no que for necessário. Servidores do órgão vão
acompanhar o evento para garantir o cumprimento do que foi estabelecido
e providenciar a retirada do lixo, ao final, com a participação do
ICMBio.
O ICMBio se comprometeu a
fiscalizar e respeitar os locais sagrados, adotando medidas de
restrição ao acesso de não índios durante a realização do ritual. O
Instituto também ficou de elaborar e executar um plano de educação
ambiental a ser implantado a partir do próximo ano.
O acordo, publicado Na última
sexta-feira (23) no Diário Oficial da União, foi assinado pela
Procuradora da República Raquel Teixeira Maciel Rodrigues; pelo
presidente do ICMBio, Rômulo José Fernandes Barreto Mello; pelo chefe
da Coordenação Técnica Local da Funai em Ibimirim (PE), Marcos Antônio
Elihimas; pelos representantes das comunidades indígenas Pipipã e
Kambiwá, Valdemir Amaro Lisboa, Gilberto José Pereira da Silva;
Expedito Rosendo dos Santos e Josué Pereira da Silva.
Aricuri ou Ouricuri
O “Aricuri”, realizado pelos
Pipipã e Kambiwá na Serra Negra, também é conhecido por “Ouricuri” entre
outros povos da região, como os Fulni-ô. É um ritual cercado de
sigilos. Os Fulni-ô, por exemplo, têm como norma a proibição de falar
sobre a cerimônia, e os mais velhos asseguram que os que infringiram
essa regra tiveram morte estranha. Segundo os anciãos, no ritual, eles
rezam e oram pelo bem de todos e, durante o período em que estão no
local sagrado, os participantes têm de se abster de bebidas alcoólicas e
outros prazeres como escutar música ou mesmo assobiar.
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O que criamos para nos salvar e aperfeiçoar como pessoas está nos
condenando aos infernos e à autodestruição
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Por Ray Lima
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Há 2 meses
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