Se
estivesse vivo, Antônio Gonçalves da Silva, que se tornou conhecido no Brasil e
no mundo como o Patativa do Assaré, completaria, em 2009, 100 anos. Tendo como
base a herança cultural deixada pelo compositor, poeta e improvisador o Governo
Federal, por meio do Ministério da Cultura, resolveu homenagear o artista
instituindo o ano de 2009 como o Ano Nacional Patativa do Assaré.
O vice-presidente José de Alencar assinou a Lei nº 12.132 de 17 de dezembro
de 2009, publicada no Diário Oficial da União do dia 18 de dezembro (Seção 01,
pág. 01) estabelecendo o ano de 2009 como o Ano Nacional Patativa do Assaré.
O Ministério da Cultura também prestou homenagem ao artista durante a
realização, nos dias 28 e 29 de maio de 2009, no Teatro da Caixa Cultural, em
Brasília, do I Encontro Nordestino de Cordel em
Brasília. No encerramento do evento, que reuniu cordelistas de todos
os estados da região Nordeste, foi prestado um Tributo a Antônio Gonçalves da
Silva, o Patativa do Assaré.
No ano de 2009 foram realizadas várias cerimônias, principalmente no Ceará,
lembrando o centenário do poeta “cabloco”. O principal evento comemorativo foi
o lançamento, em Fortaleza, no dia 18 de dezembro de 2008, do projeto Patativa
em todos os Pontos-Centenário de Patativa do Assaré. As
comemorações, que aconteceram nos dias 18 e 19 no Centro Dragão do Mar,
reuniram artistas, músicos, poetas, amigos e parentes do compositor.
Na ocasião, a família do compositor recebeu, do Instituto da Cidade, o Troféu
Iracema - Zenon Barreto. Foi criado ainda o Grupo Amigos do Patativa,
com o objetivo de arrecadar fundos para a restauração da casa do poeta
cearense.
Quem foi Patativa do Assaré
Antônio Gonçalves da Silva nasceu no dia 5 de março de 1909, na Serra de
Santana, a 18 quilômetros da cidade de Assaré, no Ceará. Ele dedicou sua vida a
produção cultural utilizando uma linguagem simples, porém poética, na
construção de músicas, poemas e até de cordel. Patativa do Assaré teve dez
livros publicados, o primeiro deles, Inspiração Nordestina (1956) e o
último Ao Pé da Mesa (2001).
O compositor, que nasceu de uma família de agricultores pobres e começou a
trabalhar na roça com oito anos para ajudar no sustento da família, passou por
momentos difíceis, como a perda da visão de um olho, aos quatro anos, e do pai,
aos oito anos. Aos doze anos entrou na escola para fazer alfabetização, onde
permaneceu por menos de seis meses.
Nesta época vendeu uma ovelha para comprar uma viola e começou a escrever os
primeiros versos. Aos 20 anos recebeu o apelido de Patativa do Assaré, pela
semelhança de sua música com o canto do pássaro do sertão nordestino. Neste
período ele começou a viajar por algumas cidades nordestinas para se apresentar
como violeiro e cantou também, por diversas vezes, na rádio Araripe.
Patativa do Assaré obteve popularidade a nível nacional, possuindo 25
premiações, títulos e homenagens, tendo sido nomeado por cinco vezes Doutor
Honoris Caus. Em 1995, ele recebeu o Prêmio Ordem do Mérito Cultural do
Ministério da Cultura.
O compositor afirmava, no entanto, nunca ter buscado a fama, nem nunca ter
tido a intenção de fazer profissão de seus versos. Seu trabalho se distingue
pela marcante característica da oralidade. Seus poemas eram feitos e guardados
na memória, para depois serem recitados.
O poeta nordestino teve ainda suas músicas gravadas por artistas como Luiz
Gonzaga ( A Triste Partida, em 1964) e Raimundo Fagner (Sina,
em 1970 e Vaca Estrela e Boi Fubá, em 1980). O compositor foi também
personagem de dois filmes produzidos sobre ele. O primeiro Patativa
do Assaré, de 1979, do cineasta Rosemberg Cariry. E o segundo, Patativa
do Assaré - Um Poeta do Povo, realizado em 1984 numa parceria dos
cineastas Rosemberg Cariry e Jefferson Albuquerque Jr.
Para o cineasta, mesmo hoje, após a sua morte, Patativa do Assaré é uma
referência literária popular já clássica, sendo a sua poética estudada em
centros acadêmicos na Europa e no Brasil. “Patativa do Assaré é um cristão
primitivo e radical que bebeu na fonte do melhor humanismo. Se o Brasil não tem
ainda o seu poeta nacional, que simbolize e expresse o sentimento de nação,
como Garcia Lorca na Espanha, Pablo Neruda no Chile, ou Camões em Portugal, o
Nordeste, popular e rebelado, tem o seu: Patativa do Assaré”,declarou Rosemberg
Cariry em artigo sobre o artista no portal Crônicas Cariocas.
Patativa do Assaré participou de importantes momentos políticos brasileiros
como o Ligas Camponesas, o movimento de resistência à ditadura militar, e as
campanhas pela Anistia e pelas Diretas Já. Na aérea cultural, foi
homenageado pela Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (1979) e
integrou os principais movimentos culturais do seu tempo como o de Cultura
Popular, no Recife, os Festivais de Música Popular Brasileira, o Movimento
Nação Cariri e os Encontros das Culturas Populares do nordeste.
Patativa nunca deixou de ser agricultor e de morar na região do Cariri, onde
se criou, no interior do Ceará.O compositor e poeta foi casado com Belinha, com quem
teve nove filhos e faleceu no dia 8 de julho de 2002 na mesma cidade onde
nasceu.
(Heli Espíndola- Comunicação/SID)
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